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Arapaçu-do-nordeste é reencontrado no Cariri após mais de uma década sem registros

Foto: Lucas Nuvens

Um flagrante inesperado voltou a colocar o Cariri no mapa da conservação: o jovem observador Lucas Nuvens, de 18 anos, fotografou o arapaçu-do-nordeste (Xiphocolaptes falcirostris) em julho deste ano no Sítio Nicácio, em Santana do Cariri (CE).

A espécie, considerada ameaçada de extinção e ausente dos registros da região há mais de dez anos, reacendeu a esperança para a preservação das matas secas da Chapada do Araripe.

A descoberta ganhou importância porque o último registro do arapaçu no sul do Ceará datava de mais de uma década, segundo a plataforma Wikiaves. A espécie habita exclusivamente matas secas maduras e bem conservadas, ambientes cada vez mais raros diante da expansão de monoculturas e do uso de herbicidas que avançam sobre o bioma.

Lucas, autor do registro, começou a se interessar por aves durante a pandemia, quando ainda adolescente recebeu de presente da mãe o guia Aves da Chapada do Araripe. Desde então, dedica seu tempo à observação da fauna no Sítio Nicácio, propriedade de sua família com mais de 200 anos de história. Metade dos 300 hectares do sítio permanece intacta como santuário de preservação, tradição herdada do bisavô e mantida por sucessivas gerações.

"O interesse já vem de longe, pois meu bisavô tinha esse cuidado de ter sempre a mata totalmente preservada para manter a quantidade e a qualidade da fauna e da flora. Por muitos anos, ele fez permutas, compras e trocas para juntar o máximo de terra onde pudesse manter a mata protegida", conta Lucas.

O registro chamou a atenção do técnico Jonas Cruz e dos biólogos Fábio Nunes e Weber Girão, da ONG Aquasis, que visitaram o sítio para confirmar a presença da ave.

"Essa ave não habita as matas úmidas, vivendo somente em matas secas e caatingas maduras, bem conservadas. Ela explora as cascas das árvores e reproduz em ocos feitos nelas por pica-paus. Esse tipo de ambiente é cada vez mais raro no Ceará. Políticas públicas que deveriam proteger essas matas estão sendo relativizadas frente aos incentivos públicos para monoculturas como o algodão e a soja. Essa é uma realidade na Chapada do Araripe. A devastação tem se valido até de herbicidas pulverizados por drones, tal como feito na guerra do Vietnã com o chamado Agente Laranja", afirma Nunes.

A ideia agora é transformar o Sítio Nicácio em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), reforçando o compromisso com a conservação.

“O maior tesouro no Sítio Nicácio é a família Nuvens que vem cuidando dessa floresta por gerações. Tudo que venha a ser feito tem que ser no sentido de apoiá-los. Temos mais a aprender do que ensinar. Quanto ao arapaçu-do-nordeste, é importante saber quantos restam, onde estão, que cavidades estão usando e como anda sua saúde genética em meio ao isolamento provocado pela devastação circundante. Um manejo bem planejado e devidamente autorizado poderá aumentar as chances de futuro dessa espécie no local. Há outras aves ameaçadas que poderão se beneficiar disso, como a jacucaca (Penelope jacucaca), e o vira-folhas-cearense (Sclerurus cearensis), além de outras futuramente" complementa.

O arapaçu-do-nordeste foi registrado pela primeira vez no Cariri em 1916, pelo naturalista alemão Emil Kaempfer. Em 2026, o feito completará um século. Agora, o reencontro no Sítio Nicácio é vista como um marco para a conservação.

“Foi uma experiência sensacional. Agora o desafio é proteger ainda mais e contribuir para que a população da espécie aumente e saia do risco de extinção”, conclui Lucas.

Fonte: g1 EPTV
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