Cinco assentamentos cearenses, localizados em um raio de até pouco mais de 100 quilômetros do município de Crato, estão participando do projeto Redeser, executado pela Fundação para o Desenvolvimento Sustentável do Araripe, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
A iniciativa tem como missão combater e reverter os processos de desertificação, a partir da gestão integrada de paisagem, manejo florestal sustentável da Caatinga, sistemas agroflorestais e trabalho com apicultura junto a agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais.
O projeto é de curta duração. Os diálogos com as famílias já foram iniciados e a ação de elaboração segue até o mês de dezembro. Os assentamentos beneficiados são Baixa Grande, em Jati; Flor de América, em Carius; Acoci, em Campos Sales; e São João e São Paulo, ambos em Antonina do Norte, na região do Cariri.
Parceria
Para o engenheiro agrônomo do Incra/CE, Odilo Coelho, a parceria da autarquia com a fundação pode viabilizar atividades ambientais importantes em áreas de reforma agrária no sul do estado. “Nesta região, o Incra tem menos alcance. Então, encontrar um aliado como a Fundação Araripe, que tem capacidade de captação de recursos e desfruta de um grande prestígio institucional, torna-os um parceiro estratégico para nós”, explica.
De acordo com o diretor técnico da Fundação Araripe, Francisco Campelo, o manejo de uso múltiplo e sustentável da Caatinga junto aos assentamentos rurais é uma oportunidade de inclusão socioprodutiva. “A ação promove trabalho e renda às famílias assentadas, conservando a paisagem, sua biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, garantindo a segurança alimentar, hídrica e energética”, afirma.
Abordagem
Durante as reuniões com as famílias assentadas, são analisadas questões como localização da criação de animais e como ela pode ser integrada dentro da floresta; verificação da existência de criação de abelhas e formas de ampliar o suporte de pasto apícola; eventuais interesses em fazer a produção de itens não madeireiros, como frutos e sementes, entre outras questões.
“Essa não é uma ação apenas de utilização de manejo florestal. Queremos desenvolver algo mais amplo, como um ordenamento produtivo pensando em todos os usos que os recursos naturais em florestas podem ter para a comunidade”, explicou o engenheiro florestal e colaborador da Fundação Araripe, Cristiano Cardoso.
Conforme considera, esse tipo de atividade não concorre com a agricultura, mas se soma a ela, trabalhando nos meses mais secos, quando há menor necessidade da presença do agricultor nos cultivos agrícolas.
Comunidade
O assentamento Baixa Grande, no município de Jati, possui 170 unidades familiares, divididas em duas comunidades: uma com 110 e outra com 60 famílias.
A presidente da Associação Manuel João Timóteo, que representa 60 famílias da área, é Maria Angelita Gondim. Ela reside no assentamento desde 2008, quando ainda era acampada, e se diz feliz com a ação pois terá mais oportunidade de trabalho dentro da área de reforma agrária.
“A outra comunidade já tem um plano de manejo deles, mas é distante para a gente ir trabalhar lá. Com o nosso plano fica melhor porque não vamos precisar sair daqui e, assim, podermos trabalhar com mais dignidade”, ressaltou.
A atividade agrícola desenvolvida no Baixa Grande é limitada em razão da escassez de água enfrentada pelo assentamento. Por conta dessa peculiaridade, o projeto a ser criado visa a integração pastoril na área de manejo.
“Durante a visita para elaboração do inventário, verificamos uma forte vocação da madeira para produção de carvão e lenha. Também tem potencial para produção de semente e apicultura, em menor escala”, descreveu Cardoso, lembrando que essas múltiplas atividades vão gerar rendas de diferentes naturezas para a comunidade.
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